quarta-feira, 13 de junho de 2012

Meu rio, Meu lago

O Rio das Antas sempre esteve presente na vida de Nova Roma do Sul. Foi nas suas margens que iniciou a colonização desta terra. Por muitos anos serviu de caminho, de despensa e saciou a sede de homens e animais. Dificilmente encontraremos pessoas que não tenham em sua memória algum fato relacionado com ele. Nascemos e crescemos nas suas margens, cruzamos seu leito de barco, de balsa ou ponte. Ele sempre foi nosso limite. Agora, 27 quilômetros dele já não são rio, são lago. Nada mais justo que prestarmos uma homenagem  ao nosso Rio das Antas.

O texto abaixo foi escrito por Vilsom Zanotto.

MEU RIO... MEU LAGO








Meu rio emprenhou. Já não se parece com a donzela faceira ziguezagueando por entre pedras e cachoeiras. Aquele rio feito mulher insinuante já não existe. Rio de rompantes ora calmo e silencioso e de repente copiosa torrente a correr desenfreada por entre vales e montanhas. O vale silencioso  era  capaz, em pouco tempo, tornar-se assustadoramente ruidoso, levando de roldão tudo pela frente. Mas agora meu rio emprenhou. Seu ventre cresceu, suas formas arredondaram, seus ímpetos arrefeceram, menos caudaloso e mais cuidadoso. Meu rio virou lago.

Seu leito cresceu e tomou conta da mata  ribeirinha. Até aquela velha figueira que por muitos anos desafiou seus momentos de fúria aceitou sua derrota submissa e submersa. Estava preparada para lutar contra a força da correnteza. Lançara raízes profundas para  essa luta, que já não servem para nada contra esta invasão mansa.

Até o velho tatu que por gerações criara sua ninhada na caseira ao pé do angico arrumou sua trouxa e foi buscar outra moradia. O galho seco de sarandi pouco acima da lâmina d’água foi por anos o ponto de espreita do Martin Pescador. Pousado nele por horas a fio estudava, sem pressa, o movimento de seus almoços. Era seu aeroporto. De lá em vôos rasantes  buscava seu café da manhã, seu almoço e seu jantar. Agora a velha rama seca de sarandi está submersa e o Martin Pescador terá que buscar outro lugar.

Quando olho meu rio de cima do monte já não tenho as velhas referências. Já não se vê a pedra do praial que nos anunciava antecipadamente se a balsa dava ou não passo.  Não era necessário chegar perto, já de longe os costumeiros pescadores sabiam todos seus segredos, agora guardados no fundo do lago. Enorme planície com certeza também cheia de segredos que só o tempo nos ensinará. Devagar as memórias do nosso rio se encobrem de densa névoa  e vão ficando cada vez mais distantes e em breve já não seremos capazes de lembrar com clareza como era o leito de nosso rio. Então a beleza e a brandura do lago, tomará sorrateiramente o lugar de nossas lembranças.

Ainda não sei se gosto mais do meu rio donzela requebrando por entre pedras e redemoinhos ou do meu rio de ventre grande, calmo e silencioso, meu rio lago. Levará algum tempo para acostumar. Por ora só sei que toda a vez que chego perto minha memória luta  ingloriamente tentando lembrar como era o meu rio. Lembrar das corredeiras dos pontos de pescaria, das pedras, das curvas, das sevas dos lambaris...

Toda a força contida na correnteza do rio, principalmente em dias de chuva, está guardada no grande  ventre  do meu rio.O que parecia indomável agora é sereno  e sua energia está guardada na sua imensidão, depositária de espantosa energia. Quando o ventre grande do meu rio desaguar, esta energia moverá maquinas, iluminará cidades, praças e ruas.  E o rio serelepe, que apenas corria por entre as pedras, agora lago, será luz, será calor, será trabalho para muitos. 


Hoje estamos em Caxias do Sul. Consequentemente atravesamos o Rio das Antas. Quando estávamos sob a Balsa União 2 vimos uma bela demonstração da natureza: um casal de patos que também atravessavam o Rio. Observamos também a nossa barragem, e o rio que está desaparecendo, virando pedras devido à falta de chuvas.

Texto: Bárbara Girelli, Tainá Carossi, Igor Zuraski
Foto: Roberto Comin

Um comentário:

  1. Lendo Meu Rio...Meu Lago... relembrei os tempos de criança em que via com meus olhos a "pedra do praial e a donzela ziguezagueando por entre pedras e cachoeiras"... Lembro com saudades dos passeios realizados, dos dias e dos amigos de domingo percorrendo o caminho para o rio. Quanta saudades...
    Parabéns e obrigada ao Vilson por me permitir repartir esse sabor de aventura através da leitura. Parabéns aos alunos de Jornalismo da UCS por esse trabalho junto aos alunos do Colégio Nova Roma.
    Maristela Tochetto Lizot - Vice-diretora do C.E.N.R

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